23 de outubro de 2007

36 - O Deserto

A língua,
surda e muda do deserto,
sopra ventos em mistério
anunciando o oculto e imenso vácuo.
Transbordante de ilusão,
acidentado na contra-mão
mas ainda assim é fértil..

Também nascem plantas no deserto.

O servo,
que não mais serve para o belo,
perde o sono em curtos ternos,
suicídio em fotogramas,
tão confusa e inútil
a trama,
mais bem-sucedida engana,
transforma sonhos em lembranças,
enquanto o surdo louco em transes
anuncia o B.O.

Pior que ficar na mesma,
é mudar para pior.

Pior que sonhar o passado
É o não-futuro a sonhar
Pior que parar o tempo
é afundar o deserto ao mar

Pior que morrer tentando,
É o não-motivo pra tentar.

p.r

23-10-07

19 de outubro de 2007

35 - O Anjo

Um dia acreditei em anjos, apesar de convicto e seguro de minhas realidades, observei uma criatura bela e iluminada.
Imaginei, um anjo.
Tentei me aproximar com intuito de uma nova descoberta.
A não-afirmação do retorno à vida.
A morte anunciada. Fui afundo.
Nadei nas rasas e me encantei. Entreguei os sentidos e me aprofundei.
Me peguei acorrentado, e acreditem, gostei.
Tinha descoberto um guardião. Uma fuga, uma razão para não mais chorar.
Chorei.
De emoção ao dividir momentos de aflição, ódio, amor e completa devoção.
Não tinha olhos para o resto. Cego pela confiança.
No limbo não existem crianças.
Nego.
Nego.
Nego.
Hoje vejo que não existe pureza.
Que aquela sensação de conforto se assemelha à demência.
Que quando me entrego, resta às costas bilhetes de chutes na traseira.
Que apesar de todas palavras ditas, convictas e atemporais, no após a peste sem cura do mar em fissura, descabelada alma que figura, com figurões sem ter questões a discursar.
De mãos dadas esquece o tempo, destrói o que corroe meu alimento, o não mais vida, o não amor, a não perspectiva.
Hoje sofro, novamente, por ser teimoso e insistente, não acreditar em mim quando me dizia..
não existem anjos, não existe vida,
no limbo.

p.r.

19-10-07

34 - O lixo

Lixo
o suco amarelo
do lixo.
Sinto
nao nego,
sou lixo...
no hoje...
na merda...
não minto.
Sem sonhos
nao imploro,
um tiro nos olhos.
sem alívio.

p.r.

19-10-07

11 de outubro de 2007

33 - A Cura

Ato que descarrega
todas as mazelas
obscuras e belas,
mensagens.
Instantaneamente
alertam os estados,
testanto a dança
dos dardos arremessados
ao cerebro.
Que canta em resposta
soletrando notas
levadas ao vento
com as almas livres,
as de momentos.

p.r.

11/10/07

32 - O Soldado

Abandonado,
duplamente enganado
o soldado ferido
Cravou no peito,
a bandeira da amada,
a causa, o conflito
E foi cuspido
na cara, humilhado
destino irônico
Senhor que destroe,
não trarás para nós
nada além de paredes
e abismos.

p.r.
11/10/07

10 de outubro de 2007

31 - O Tenor

A febre,
abre as portas.
O corpo,
expulsa a obra.
Demônio canta as notas
que outrora fora a rota,
definitiva.

Caminho confuso estreita
os olhos.
Perspectiva,
atingir planos tão notórios.
Que vale a vida?
Se entregas, sábia alquimia,
me traz o alívio.
Procura inútil que me guia

Na tentativa,
levanta a cara e encara o dito.
Sem harmonia,
no caos descrito como um limbo.
A agonia,
visão aguçada todo um ciclo.
Não valeria,
todo roteiro num só dia.

Enlouquecia,
tudo de novo repetia
Cada momento,
cada escolha pesaria.
Arrependimento,
palavra exílio proibida.
O tenor atento,
pesava a vida
em balanças.

De um lado o tempo,
tudo destroe sem lamentos
Sobra as lembranças
fragmentadas fantasias
a arrogância,
invertido sentido do termo
bate no peito
centra o ponteiro
alma descansa.

p.r 10-10-07